Interview with Jake Meier

Designer do Estúdio Nômada Firma Parceria com a Sincronia

 

Por Marcela Liz

Notícias | 18 de Fevereiro de 2019

 

Foi graças ao Google Ads – o serviço do maior buscador de websites da internet que congrega clientes e empresas – que a equipe da Sincronia Filmes chegou até e conheceu o trabalho do designer de produto Jackson Goestemeier, ou Jake Meier, como ele é mais conhecido, principalmente após firmar parcerias que se diferenciam pela informalidade, qualidade de atendimento e comprometimento com o cliente. “O Jake está sempre pronto a atender”, afirma o diretor (e owner) da Sincronia, Emanuel Mendes. “Precisávamos de um estúdio de design para criar a arte e o layout definitivos para nossos lançamentos em home video, e foi uma verdadeira benção que ele estava no topo da lista. O trabalho dele une tudo o que priorizamos: além da qualidade e da criatividade do material, com um destaque no minimalismo e na simplicidade, ele também possui uma preocupação muito grande em atender da forma mais eficiente e rápida possível, sempre dando um feedback para o cliente, o que é muito raro”, conclui Emanuel.

 

Nascido em Jaraguá do Sul, Jake Meier vive em Blumenau, Santa Catarina, desde 2008. É formado em Design de Produto pela Fundação Universidade Regional de Blumenau e atuou em reconhecidas empresas e indústrias catarinenses, com ênfase nas áreas de marketing e design. Criativo, inquieto e idealizador, sempre buscou executar seu trabalho com excelência e inovação, estreitando o relacionamento com seus clientes por meio de estratégias viáveis e soluções que enfatizem o produto/serviço de modo inteligente e fora do comum. Hoje à frente do Estúdio Nômada, desenvolve materiais de comunicação, embalagens e conceitua marcas com um propósito íntegro e singular, valorizando os pontos fortes e entregando um resultado incomum, distanciando da concorrência em termos de qualidade e eficácia.

 

Para a Sincronia Filmes, Meier estreou criando a capa, o layout e a arte definitiva dos DVDs e Blu-rays que a produtora – e agora também distribuidora do próprio conteúdo – irá lançar daqui em diante. Para tanto, Emanuel e Jake trocaram mensagens e referências e fizeram reuniões por Skype até chegarem a um modelo que fosse “bonito, simples e clean, e que também contivesse a alma da produtora inserida naquele produto, ou seja, no caso passar todas as informações de uma maneira intuitiva, inteligente e não-poluída”, como afirma Emanuel. Nesta entrevista, concedida por email, Meier conta sobre seu processo de criação, as influências do Estúdio Nômada, o trabalho com a Sincronia, e, é claro, sobre design.

 

Vamos começar quebrando um pouco o protocolo, pois essa pergunta é na verdade mais uma curiosidade dessa jornalista do que qualquer outra coisa: design tem a ver com conceito? Isto é, pega-se um produto e/ou serviço, entende-se do que ele fala/vende, e só então se elabora um design que converse com aquele conceito?

Sim, um projeto de design precisa ter um conceito, uma ideia maior por trás, sem isso ele é apenas uma execução ao acaso. O design precisa ter embasamento em questões culturais, econômicas, sociais e de comportamento dos beneficiários do produto ou serviço que está sendo desenvolvido. Essas questões precisam ser analisadas, conectadas, para se então construir o projeto.

 

Falando nisso, de onde vem o nome Nômada, do estúdio? Pelo dicionário, percebe-se que é a mesma coisa que nômade, ou seja, uma pessoa que não tem uma habitação fixa. Por que esse nome e como ele conversa com o conceito que você quis dar ao estúdio e ao seu trabalho?

Os povos nômades estão sempre se movendo para sobreviver, seja em busca de comida ou pastagem para as renas. No estúdio estamos sempre nos movendo para sobreviver também, nossa sobrevivência como pessoas criativas e que querem fazer acontecer depende da busca constante de novas ideias, materiais, colaborações e jeitos de fazer. Daí vem o nome Nômada.

 

Como é a rotina de trabalho dentro do Estúdio Nômada? Em outras palavras, como vocês pegam algo onde há um pouco de informação, ou às vezes informação nenhuma, e criam algo em cima dele?

Nossa rotina é bastante dinâmica, nos dividimos em atender clientes, reuniões, melhorar nossos materiais e realizar os projetos, tudo no ritmo mais saudável possível. Nosso local também não é fixo, estamos em coworkings pela cidade (em Blumenau, Santa Catarina, onde fica o estúdio), em casa, ou até mesmo nos clientes. Hoje o estúdio é formado por um série de parceiros: eles são os amigos do Nômada que ajudam o estúdio no desenvolvimento de projetos específicos quando o estúdio necessita. São ilustradores, pessoas com conhecimento em redes sociais, branding, e assim por diante. Elas se juntam ao estúdio conforme a necessidade do projeto. Em contrapartida, chamam o estúdio para realizar projetos quando necessário, então estamos em constante troca. Quanto aos projetos onde há pouca informação, garimpamos e tentamos conseguir a maior quantidade de dados de forma secundária, ou seja, partimos para pesquisa online, de artigos, teses, dados de pesquisa de órgãos governamentais, institutos, ONGs, referências ou qualquer outra fonte que seja confiável e relevante. Depois analisamos tudo e conectamos as informações para que o desenvolvimento do projeto seja o mais certeiro possível.

 

Como você acha que um design de um produto e/ou serviço pode ajudar na melhoria, propagação e aceitação dele?

O design usa dados e informações para o desenvolvimento de projetos, esse é o design de verdade. Então quando um produto ou serviço foi desenvolvido com um preocupação real pelo design e experiência dos beneficiários (clientes, distribuidores, lojistas e todos os que têm contato e se beneficiam do produto/serviço de alguma forma), ele faz com que as pessoas se apaixonem por ele. O mesmo vale para uma melhoria de um produto: se você já tem algo mas consegue fazer um redesign baseado em novas informações relevantes sobre o público, com certeza esse público irá se relacionar melhor com o produto/serviço.

 

Você acha que o design pode ser intuitivo, no sentido de ajudar quem utiliza e/ou compra um produto ou serviço?

Totalmente, esse é um dos pontos chaves do design: ele precisa fazer com que o consumidor se comunique de forma extremamente fácil com o produto/serviço, sem ruídos. Se ocorrerem ruídos, isso pode fazer com que o consumidor pense duas vezes antes de consumi-lo novamente, ou opte por outra marca com um projeto de design mais assertivo.

 

Ao longo do tempo, tivemos uma infinidade de designers e profissionais que inovaram neste segmento – desde a Escola de Arte de Bauhaus, na Alemanha, passando pela estética automotiva, de arquitetura, engenharia, moda e outros segmentos. Até o Brasil é conhecido mundialmente por apresentar projetos e profissionais que se destacam na área. Como, em sua opinião, o design pode inovar?

Acredito que o design tem muito a inovar e impactar pensando em soluções para acabar ou minimizar problemas relacionados à pobreza, poluição, guerras, acesso à água e melhores condições de saúde, Pensar na sociedade, nas pessoas de forma geral e como podemos impactar criando soluções para elas. Temos uma ferramenta de transformação muito poderosa nas mãos. Outro ponto crucial onde o design pode entregar soluções inovadores é no que diz respeito ao design circular, onde um produto não vai ao lixo após sua vida útil, mas sim volte a algum estágio do ciclo de fabricação onde possa ser 100% consertado ou reutilizado de alguma forma, evitando que mais matéria-prima seja retirada do planeta ou que o produto acabe descartado e poluindo o planeta.

 

Falando nisso, quem são algumas de suas referências e/ou modelos?


Com certeza a Pentagram é uma grande referência, fazer design bem feito, durante tanto tempo é algo notável. Gosto muito também do Johann Bödecker e do Jamie Hall (fundadores da Pentatonic), e da Ellen MacArthur Foundation, focada no design circular.

 

Você acha que o design se molda ao tempo, aos modismos de cada época, ou ele não necessariamente se curva a isso? Digo isso porque, quando se fala em design para moda, por exemplo, pensa-se assim. Ou essa teoria não serve para os outros segmentos do design?

Com certeza todas as áreas do design se aproveitam de modismos para seus desenvolvimentos, vai depender muito da empresa para a qual o produto ou serviço está sendo desenvolvido. Se a empresa tem como foco atingir consumidores que se rendem aos fads (modismos), nada mais natural do que o designer, ao criar, se apropriar destes fads. É tudo uma questão de público e cliente no fim das contas.


 

Como se deu o encontro entre vocês e o pessoal da Sincronia?

O Emanuel me mandou um Whatsapp. Ele nos encontrou no Google, gostou do minimalismo do site e resolveu falar com a gente. Foi uma boa surpresa.

 

A produtora é conhecida por, entre outras coisas, uma preocupação com o design e a apresentação de seus produtos/filmes de forma diferenciada, esteticamente bonita e conversando exatamente com a proposta, as intenções, do trabalho – seja ele uma peça audiovisual ou gráfica, como o cartaz ou folder. Como se dá uma convergência de alinhamento de trabalho entre duas empresas que parecem pensar de maneira semelhante? Facilita o trabalho? E de que maneira o engrandece e/ou o melhora?

Com certeza é um grande facilitador do trabalho. Nós como estúdio gostamos muito do minimalismo, assim como o Emanuel, então não tem erro: estamos com o pensamento alinhado e não ficam dúvidas sobre como proceder com o layout dos materiais, por exemplo. Estamos sempre em busca da estética que nos agrada e que está alinhada à visão que o Emanuel tem dos materiais da Sincronia.

 

A Tecnologia Social é o primeiro longa-metragem da Sincronia, e foi distribuído pela produtora para os cinemas e agora para o mercado de Home Video. Sei que existe uma preocupação muito grande da parte deles em criar um conceito, um material que seja diferenciado no mercado. Quais foram as referências que vocês se basearam para se chegar ao produto final?

Eu e o Emanuel somos aficcionados pelo minimalismo e a limpeza das peças gráficas, esse foi o foco do desenvolvimento. Especificamente utilizamos bastante como referência os materiais da Criterion Collection (distribuidora americana de DVDs e Blu-rays), que, por sua vez, foi desenvolvido pela Pentagram – uma super referência para qualquer designer. Tentamos deixar os materiais com uma leitura fácil, sem distrações e com a hierarquia das informações pensada para não deixar o material chato.

 

Quais as diferenças – se é que elas existem – entre criar um design para um produto audiovisual como um filme e outro para, digamos, uma embalagem de um produto alimentício?



Não existe diferença, todo desenvolvimento compreende uma série de análises para se chegar a um resultado gráfico final, que converse com quem irá consumir este produto. A diferença mais perceptível é a técnica, cada área tem uma legislação a seguir. Os DVDs possuem selos de classificação indicativa, que são obrigatórios e as embalagens de alimento têm suas tabelas nutricionais, mas tirando essa questão técnica é basicamente o mesmo raciocínio: entender o cliente e transferir esse entendimento para um peça gráfica ou produto.

 

Para finalizar: diz-se muito que o design pode, e deve, ajudar a melhorar a vida das pessoas, tornar a vida mais prática. Em sua opinião, como você acha que isso pode acontecer? 

Com relação à praticidade no dia-a-dia, a busca constante do mercado por novidades faz com que as empresas estejam sempre à procura de maneiras de conquistar novos clientes, e aí o design entra no jogo criando produtos com estética mais atraente mas também com melhor funcionalidade. Essas funcionalidades tornam nossa vida muito mais fácil e prática e estão até mesmo nas menores da soluções ao nosso redor às quais não damos atenção: um lacre de latinha, por exemplo, pois até 1963 as pessoas tinham que abrir as latinhas com abridor de latas. Inimaginável! Vale ressaltar também a importância do design para tornar a vida das pessoas melhor de forma geral: os exemplos são vários, mas o que mais gosto é o projeto chamado The Mine Kafon, um desativador de minas terrestres criado pelo designer afegão Massoud Hassani. É um dispositivo inteligente, barato e que salva vidas desativando minas terrestres, e ele é movido pelo vento, ou seja, não polui enquanto está em funcionamento. São projetos assim que devem ganhar os holofotes do mundo do design.

 

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Marcela Liz é Jornalista e Empreendedora. Colabora regularmente com este site.