A TRANSFORMAÇÃO DO CINEMA

As Novas Opções para se Consumir a Sétima Arte

 

Da Redação

Artigos | 02 de Fevereiro de 2022

 

Algumas vezes ouvimos a frase “o cinema está mudando” ou “muitas mudanças vêm ocorrendo no cinema”. O que na verdade vem acontecendo, de vários anos para cá, é que o cinema – e isso engloba toda a cadeia de produção, da ideia inicial quando se pensa em um projeto até sua distribuição e comercialização – está em realidade se transformando. Agora existem mais opções para se assistir ao filme preferido ou o que está bombando no momento. E esta transformação vem desde já há vários anos, “a rigor, desde praticamente o surgimento da internet”, diz Clayton Douglas, da ETC Filmes, empresa parceira da Sincronia, e de várias produtoras e/ou estúdios, no quesito distribuição e comercialização. “Foi a rede que começou essa transformação que aliás não para. Tivemos primeiro o YouTube, que colocou no ar todo um catálogo já existente da televisão e posteriormente do cinema”, diz. “Com a diferença de que o YouTube não possuía, naquela época quando surgiu, os direitos sobre os quais muitos produtores e/ou distribuidores se debruçam hoje em dia. Foi preciso a internet se firmar e “se profissionalizar” para que essa miríade de opções colocasse as coisas nos eixos. Daí para o Netflix e várias outras plataformas de streaming e VOD foi um salto gigantesco nesta profissionalização do setor”, continua Clayton. 

 

Apesar de tudo, ainda existem muitas pessoas que preferem ir ao cinema para serem “transportadas” da realidade para este mundo completamente diferente do seu e lá ficar imerso durante duas horas – e muitas vezes até acabarem os créditos. ” Às vezes é difícil demais voltar à realidade”, diz a produtora Janaina Zambotti. “Ficamos tão envolvidos no filme, tão naquele estado de hipnose que o cinema, a sala escura, proporciona, que para despertar daquele “transe” demora bastante”, diz ela. “Acho que é por isso que muitas pessoas ainda preferem a tela grande, essa sensação que só o cinema proporciona, mesmo apesar de tantas opções para se assistir a um filme, mesmo apesar de a pandemia (do coronavírus, que obrigou o mundo a entrar em uma quarentena) ter modificado tanto nossos hábitos”.

 

Mas há também quem prefira o streaming com seu ritual e uma comodidade e liberdade que nos permite escolher a dedo a produção com o benefício de permitir a pausa para se ir ao banheiro ou mesmo atender a uma ligação telefônica. “O streaming veio para ficar”, diz Clayton. “É um passo muito adiante da época das locadoras ou mesmo do mercado de home video, com os Blu-rays e DVDs (um segmento que atinge apenas um nicho muito específico, geralmente o de colecionadores), porque dá uma outra dinâmica ao prazer de se assistir a um filme, ou mesmo a uma série”, diz ele. 

 

E há também um terceiro grupo, o de espectadores que gostam do VOD (Video On Demand), serviços de assinatura por clique que, da mesma forma, são uma extensão natural das videolocadoras. ” Este tipo de serviço”, continua Clayton,”transmite um encantamento e ansiedade a respeito da exclusividade do aluguel de filmes, herdado das locadoras. Com a vantagem de não se conseguir o filme porque o vizinho e/ou amigo já o levou ou mesmo por causa daquela chatice de ter que devolver a fita no domingo à noite ou na segunda (rebobinada, quem lembra disso?), já anunciando o começo da semana”. 

 

“Todo este cenário”, diz Janaina,”vem agora impactando a criação e o modelo de produção dos filmes. Hoje, há fitas que, à semelhança das produções feitas exclusivamente para a TV, são produzidas especificamente para o streaming e o VOD, com estreia e tudo o mais, às vezes até com material de divulgação todo particular para estes segmentos”, continua ela. “Por isso, é importante produtores, diretores e estúdios/produtoras estarem atentos a todas estas variantes e segmentar ainda mais sua audiência. Mas no fundo, no fundo, não importa se seja para salas de cinema, o streaming, o VOD, ou mesmo o mercado de DVDs e Blu-rays: isto são apenas os meios de distribuição – o que vale mesmo é a pessoa se sentir à vontade diante de tantas opções e enxergar esta transformação como positiva para a experiência que vai ter com o filme”, finaliza Janaina.

 

Em tempo: a imagem que ilustra esta matéria é da artista Lucille Groleau. 

 

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